Objetivo é conseguir um bom salário para poder pagar graduação no futuro. Indecisos aproveitam para ganhar tempo na escolha da carreira a seguir.
Atrativos como bom salário inicial, não precisar ter experiência anterior e estabilidade para pagar uma faculdade no futuro têm feito jovens que estão no último ano ou concluíram o nível médio deixarem de lado os livros para vestibular e substituí-los por aqueles voltados a provas de concursos públicos.
Quando concluiu o nível médio, em 2007, Roger Martins de Jesus, de 19 anos, que mora em Brasília, recebeu o empurrão inicial dos próprios pais para prestar concurso no lugar do vestibular. “Eles trabalham no setor privado e acreditam que a carreira publica é melhor”.
Ele, que nunca trabalhou, conta que seguiu o caminho inverso do de seus colegas de classe do nível médio. “Em Brasília, quase todo mundo estuda para concurso, mas primeiro as pessoas se formam e só depois tentam a carreira pública. Eu quis primeiro fazer concurso para depois entrar na faculdade.”
No começo, os pais pagaram cursinho de concursos para ajudar nos estudos. Mais de dois anos depois, Roger disse que hoje estuda por conta própria e já prestou provas para mais de dez cargos. “Não pensei ainda no caso de não passar. É só questão de tempo. Uma hora eu passo”. Dessa vez, ele está estudando para o cargo de agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), com salário de R$ 4,2 mil. Para isso, diz estudar praticamente o dia todo.
Leve aumento
De acordo com o professor de direito administrativo Wilson Granjeiro, diretor presidente do cursinho Gran Cursos, mesmo que de forma tímida, tem aumentado o número de jovens que procuram o curso para passar em cargos públicos. De acordo com ele, de 2002 a 2010, aumentaram de 1% para 5% as matrículas com pessoas de até 18 anos no cursinho.
Muitos são influenciados pelos pais,que já são servidores públicos"Wilson Granjeiro. diretor de cursinho“Muitos são influenciados pelos próprios pais, que às vezes já são servidores públicos”, disse. Para Granjeiro, outro fator que atrai os jovens são os bons salários iniciais e a estabilidade oferecida pela carreira pública.
No cursinho Academia do Concurso, a participação de candidatos com idade de 17 a 19 anos entre os matriculados com nível médio subiu quase 12% entre 2007 e 2010, disse o diretor pedagógico Paulo Estrella. “Muitos procuram a carreira pública como primeiro emprego”, afirma.
Inspiração no irmão
Para a carioca Taciana Garcia, de 20 anos, não ter dinheiro para pagar a mensalidade de um curso superior foi o que a estimou a adiar os planos de começar uma graduação e investir nos concursos.
“Terminei o nível médio em 2009 e não prestei vestibular. Eu preciso primeiro conseguir uma estabilidade financeira”, afirma. A concurseira explica que, entre os colegas da sua sala de nível médio, foi a única que resolveu seguir pelo caminho dos concursos públicos. “A condição financeira influi bastante nisso. Na maior parte das vezes, quando as pessoas saem do nível médio para a faculdade, os pais ajudam na mensalidade até o final”, destaca.
Taciana inspirou-se no irmão, que passou em concurso na carreira militar. Há um ano estudando para concursos, a jovem foca as leituras para o cargo de agente executivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com salário de R$ 4,8 mil. O concurso foi lançado no dia 11 de outubro e as provas serão no dia 19 de dezembro.
Taciana afirma que se espelhou no irmão mais velho, Carlos Vinícius Garcia, de 24 anos, que passou em concurso na carreira militar aos 18 anos e atualmente está no penúltimo ano da faculdade de direito. Carlos diz que apóia a irmã. “Eu até ajudo quando ela faz alguns concursos que têm matéria de direito”, afirmou.
O militar afirma que pretende prestar outros concursos futuramente para cargos de nível superior na área jurídica, que oferecem melhores salários. Assim como o irmão, Taciana diz que pretende fazer faculdade de direito, também atraída pelas altas remunerações.
Começou cedo
Com 17 anos, Robson Filipe Mendes Paiva, também de Brasília, também decidiu passar em um emprego público para depois fazer faculdade. Adiantado na escola por ter terminado o nível médio com 16 anos, ele diz que está estudando com calma para quando sair algum concurso para o cargo de agente administrativo no Senado. “Estou estudando as matérias gerais desde janeiro para quando sair o edital ir para as disciplinas específicas”.
Robson disse ter se interessado em fazer concurso após conseguir emprego de assistente de almoxarifado de um cursinho do setor em Brasília. Ele explicou que, após o trabalho, tem aulas das 17h às 22h30. O assistente disse que a questão financeira influenciou na decisão, já que não conseguiria arcar com os cursos de um curso superior privado atualmente.
Meu objetivo é passar em algum cargo do INSS e, mais para a frente, farei faculdade"Sara Barquette Xavier
Tempo para os indecisos
Porém, alem da questão financeira, a indecisão sobre qual carreira seguir também é um fator que atrai os jovens aos concursos antes de começar uma faculdade, diz o especialista Estrella.
Sara Barquette Xavier, de 19 anos, que mora em Santo André, no ABC Paulista, é um exemplo. Ela disse que ainda não está tão decidida em relação à faculdade que quer fazer e resolveu estudar para concurso público. “
O concurseiro Roger explicou que a indecisão sobre qual curso superior fazer, que já existia em 2007, quando terminou o nível médio, continua. “Eu acho que vou fazer direito, cai tanto dessa matéria nos concursos que acabei gostando ao estudar. Mas posso fazer administração também”.
No caso de Sara, ela até começou a faculdade de nutrição, mas parou em 2009 porque disse não ter gostado muito do curso. “Por conta da minha indecisão, optei por tentar concurso, já que dá estabilidade e o salário é bom”.
Idade mínima para cargo público
A colunista do G1 Lia Salgado, especialista em concursos, explica que a idade mínima para assumir um cargo público é de 18 anos. "Mas isso não impede que você já comece a estudar e faça provas, desde que, no momento da posse, já tenha 18 anos completos".
Por Gabriela Gasparin - G1 São Paulo
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