Há poucas décadas, ter um curso superior era um grande diferencial competitivo e tornava o candidato muito atraente para os contratantes. Era uma época em que poucos tinham acesso a uma graduação, e menos pessoas ainda chegavam a uma pós.
Hoje em dia, com o mercado altamente competitivo e a necessidade cada vez maior de se capacitar, além da ampliação do número de universidades, tornando o ensino superior cada vez mais acessível para mais pessoas, o que antes era um diferencial competitivo tornou-se praticamente um perfil padrão. A graduação hoje é tida como obrigatória para muitos cargos, principalmente os técnicos e os de liderança.
Formação passou a ser um fator básico e primordial, tanto para se conseguir um emprego como para subir na carreira. Pessoas formadas não só tem mais chances de serem contratadas como conquistam salários maiores. Neste mundo competitivo e altamente tecnológico a falta de formação e principalmente a falta de conhecimento hoje é altamente penalizada e eu diria que o conhecimento é fundamental para quase qualquer área de atuação.
No entanto, para mim e para vários outros administradores e gestores de pessoas que se preocupam com resultado e performance, em muitos casos o diferencial competitivo não está mais na formação ou mesmo nos cursos de graduação, pós e MBA. Hoje as empresas precisam de muito mais do que apenas profissionais formados ou com algum conhecimento. Elas precisam de profissionais capazes de ofertar várias outras competências importantes simultaneamente, sendo que a formação é apenas uma delas.
Veja a seguir algumas destas competências.
Competências relacionadas ao conhecimento
As empresas precisam de profissionais autodidatas, pois a quantidade de informação nova que surge todos os dias é enorme, e não estar atento às novidades é ficar desatualizado perante o mercado.
Elas precisam de profissionais que saibam se reciclar, ou seja, que joguem fora boa parte do que aprenderam na escola, pois a palavra de ordem do mundo atual é mudança. Por isso, muitas vezes o que se aprendeu na escola não é mais adequado e precisa ser reciclado.
As organizações precisam também de colaboradores que tenham tido prática na execução, por isso, experiências anteriores também acabam sendo bastante importantes. Não dá para levar em consideração quando estamos falando de pessoas em início de carreira, mas em pouco tempo o profissional que trabalha na sua área acaba conquistando uma boa bagagem e aprende na prática muito mais do que uma universidade é capaz de ensinar.
Quero salientar também a importância de aprender com os outros. Todos somos professores e alunos ao mesmo tempo, e a todo tempo temos a oportunidade de interagir com outras pessoas que muitas vezes têm bons costumes, boas práticas, formas de conduzir as coisas, formas de otimizar o tempo, de se organizar. Uma das coisas que também diferencia um bom profissional é sua capacidade de agregar novos conhecimentos através das experiências obtidas com as pessoas que conheceu e com quem interagiu.
Conhecer um segundo idioma tem sido cada vez mais importante, sendo oinglês o mais importante dentre eles. Grande parte da literatura técnica em muitas áreas e muito conteúdo disponível na Internet está predominantemente em inglês. Permanecer sem conhecimentos neste idioma fará com que o profissional perca boas oportunidades de se informar e de aprender muitas coisas.
Também um pouco de conhecimento em informática e Internet tem sido cada vez mais útil e importante. Não ter medo do computador, mas, pelo contrário, ter familiaridade com ele, ajuda muito a desempenhar bem a maioria das funções e mesmo a dar continuidade ao aprendizado nesta área.
Competências relacionadas a valores
As empresas precisam de profissionais com valores morais e éticos, principalmente para cargos de liderança, pois já se foi o tempo em que o chefe era simplesmente alguém que mandava. Hoje o gestor é aquele profissional que representa um exemplo a ser seguido por todos.
Dependendo do cargo, as companhias precisam muitas vezes de profissionais que tenham coragem para tomar decisões e correr o risco de errar, em vez de profissionais que vivem se escondendo atrás de atitudes burocráticas e medrosas.
Competências relacionadas a capacidades diversas
A criatividade tem sido mais valorizada, e não se aprende a ser criativo na escola. Criatividade tem a ver com a liberdade de pensamento. É se permitir, inovar, arriscar e até mesmo se expor ao ridículo. Hoje as empresas precisam de respostas e saídas criativas para os novos problemas que surgem a cada dia.
Saber se comunicar bem também é muito importante. Articular corretamente suas ideias, concatenar assuntos, estabelecer relações lógicas, coerentes e claras entre os fatos, assim como saber se expressar bem através da escrita também ajuda muito. Tudo isso valoriza o profissional e pode fazer dele um bom candidato e um excelente colaborador.
Competências relacionadas ao comportamento
Por fim, as competências relacionadas ao comportamento talvez sejam as mais importantes, pois a grande maioria dos profissionais é normalmente admitida em função do conhecimento, mas, em geral, demitida por mau comportamento. Sua atitude frente aos desafios, às situações de trabalho adversas e também no dia a dia é um fator essencial para que ele possa gerar a confiança que a empresa precisa ter para desejar mantê-lo em seus quadros.
As empresas precisam de profissionais com alto índice de inteligência emocional. É cada vez maior a necessidade de interagir e de agir como equipe e, por isso, saber se relacionar é fundamental na formação de equipes fortes e unidas.
Capricho, preocupação e zelo são palavras e comportamentos importantes. Toda empresa deseja um profissional que desempenhe suas funções com esmero e capricho.
Ser alguém voltado para resultados, proativo e disposto a perseguir suas metas também é altamente valorizado, e isso não se aprende na escola.
Ser legal conta muito: ser simpático, cortês, não falar mal dos outros e não participar de fofocas, ser prestativo e estar sempre pronto a ajudar. Tudo isso ajuda muito para que as coisas fluam e bons relacionamentos sejam construídos.
O profissional precisa ter um lado empreendedor, pois ele é responsável por uma parte importante do todo e precisa gerir seu “pedaço”, seu tempo, suas tarefas, e organizar-se para que possa render. Novamente, não se aprende a ser empreendedor na escola.
Aqui ainda é interessante colocar um item que para mim é muito importante: aresiliência. Resiliência é um termo da física que fala sobre a capacidade de algo retornar ao seu estado original após ter sofrido uma tensão ou passado por uma situação crítica. É a capacidade de não se deformar e de não perder as características originais após uma situação de pressão. Este termo hoje é muito utilizado na psicologia, principalmente na organizacional, e significa a capacidade do indivíduo em lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão e situações adversas (choque, estresse) sem surtar e, principalmente, conservando posteriormente o mesmo perfil psicológico.
Portanto, em meio a tantas coisas importantes, uma formação torna-se apenas mais um item e, em alguns casos, pode ser até mesmo secundário.
Além disso, três pontos muito importantes sobre formação ainda precisam ser ditos.
O primeiro é que um diploma de conclusão de curso não confere ao seu portador, necessariamente, o conhecimento sobre o assunto. É claro que se pressupõe que o aluno então formado tenha adquirido tal conhecimento, pois ele concluiu um curso que tinha por finalidade transmitir este conhecimento. No entanto, todos nós sabemos que muitos vão às escolas simplesmente para responder às chamadas, colam na hora da prova, para ser aprovados, ou utilizam artifícios para contornar o fato de não terem internalizado os ensinamentos que ali foram transmitidos. Ou seja, um diploma em si não é garantia de conhecimento.
O segundo é que, muitas vezes, o que se aprendeu na escola ou na universidade já está ultrapassado e nem sequer é mais de utilidade para o exercício da profissão. Isso é muito comum nos cursos de áreas como tecnologia ou telecomunicações, em que o conhecimento muda a toda hora e, muitas vezes, é preciso simplesmente jogar fora, literalmente, boa parte do que se aprendeu.
O terceiro ponto é que muitas pessoas obtêm conhecimento de outras formas. Às vezes pela experiência prática, outras vezes por meio de autodidatismo, outras ainda por terem o privilégio do convívio com um grande mestre daquele conhecimento específico.
Estes pontos colocam ainda mais em xeque a importância da formação tradicional, mostrando que, muitas vezes, quem tem o diploma de conclusão de curso pode não ter o conhecimento esperado e, outras vezes, que tal conhecimento pode estar na posse de outros que sequer cursaram uma universidade.
A história nos dá vários exemplos de pessoas que não concluíram seus cursos e que nem por isso deixaram de ser grandes profissionais, impactando não só a si mesmos e suas famílias, mas toda a humanidade. Dois grandes exemplos são os famosos Bill Gates e Steve Jobs, que sequer terminaram seus estudos. Isso demonstra como há muito mais do que o mero conhecimento técnico envolvido na construção de um grande talento ou mesmo de uma carreira.
Dentre estes vários pontos mencionados, talvez alguns sejam até mais importantes do que um diploma universitário. Conheço pessoas que são muito boas no que fazem e, mesmo não tendo um diploma, muitas vezes são melhores do que vários profissionais que ostentam uma formação acadêmica até mesmo de escolas de renome, que infelizmente por se ancorarem única e exclusivamente neste mérito, deixam de se desenvolver outras competências e quando expostos ao dia a dia empresarial, demonstram toda a sua fragilidade e desabam frente às pressões e às necessidades cotidianas, acreditando que, pelo simples fato de terem se formado numa boa instituição de ensino, são superiores a outras.
Como já dito, a formação acadêmica é apenas um item dentre vários outros.
É uma pena que a maioria dos departamentos de RH das empresas ainda não tenha percebido isso e continua endeusando certos profissionais simplesmente porque estes se formaram em universidades ditas como “de primeira linha”, preterindo outros excelentes candidatos por não terem um diploma destas universidades.
Mas não posso deixar de concordar com os profissionais de Recursos Humanos que deveria ser bem mais fácil encontrar grandes talentos dentro do universo de pessoas que já passaram pelo crivo de um vestibular e conseguiram concluir seus cursos em instituições consideradas exigentes. No entanto, o dia a dia demonstra que nem sempre isso é uma realidade. Não é incomum também encontramos grandes talentos fora destas famosas instituições, ao mesmo tempo em que muitas vezes vemos pessoas que foram formadas por estas, mas que não conseguem progredir, vivendo muitas vezes toda uma vida à sombra do fato de um dia terem tido o privilégio de se formar nestas famosas instituições.
Cabe então aos profissionais de Recursos Humanos a desafiante tarefa de filtrar os bons profissionais, os mais completos, independentemente das instituições em que estes foram formados, levando em consideração vários outros pontos também importantes para a formação de um talento.
Desta forma, quatro pontos que considero muito importantes. Em primeiro lugar, formação acadêmica, definitivamente, não é garantia de emprego. Em segundo lugar, o conhecimento pode, sim, ser adquirido de outras formas, que não a tradicional. Em terceiro, no mundo moderno, a absorção de conhecimento deve ser constante e não deve se restringir ao período da formação. E em quarto, formação acadêmica ou mesmo o conhecimento em si não são suficientes para formar um profissional, mas são apenas uma das partes, dentre muitas outras, importantes e necessárias à formação de um bom profissional, de um talento.
Concluo enfatizando que os candidatos a um emprego não menosprezem a formação acadêmica. Pelo contrário, devem aproveitar este período para realmente adquirir conhecimento. Mas mais importante do que a formação é o conhecimento adquirido e o contínuo aprendizado posterior, incluindo a reciclagem daqueles conhecimentos que já não são mais válidos. Mas além disso, não menospreze nunca todos os outros pontos aqui mencionados, ao contrário, reconheça-os todos e procure sempre se desenvolver igualmente, aprimorando-se continuamente em todos os sentidos.
Portanto, formação acadêmica apenas não é garantia de emprego! Um bom profissional, com boa empregabilidade, alia uma boa formação acadêmica a vários os outros pontos que aqui foram descritos.
Por Blog Curriculum.com.br Em 09/set/10
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