O que pode motivar ou desestimular os profissionais a darem o melhor de si? Como os talentos conseguem identificar-se com a empresa em que atuam e desenvolvem atividades diárias? Essas e outras indagações podem se encontradas nos valores corporativos que os colaboradores vivenciam e que levam as pessoas a acreditarem que realmente vale a pena dar o melhor de si não apenas para a obtenção de resultados satisfatórios ao negócio, como também para a geração do sentimento de realização individual que cada indivíduo busca.
Em entrevista concedida ao RH.com.br, Paulo Alvarenga consultor organizacional e sócio-diretor da Crescimentum, é enfático sobre a importância de se priorizar os valores organizacionais, uma vez que esses proporcionam impactos diretos tanto na vida das empresas quanto na performance dos profissionais. "Uma das principais questões que os profissionais perguntam ao entrar em uma organização hoje é quais são os valores daquela empresa", cita, ao destacar que é notória uma forte preocupação do mercado com o fortalecimento dos valores organizacionais.
RH.com.br - Nesse momento de intensa competitividade, o senhor acredita que as organizações preocupam-se com o fortalecimento dos valores organizacionais?
Paulo Alvarenga - Hoje temos o seguinte cenário: intensa competitividade, inovação constante, foco em resultados rápidos, equipes mais reduzidas e a exigência cada vez maior, gerando estresse, desgaste e reflexões profundas sobre os estilos de gestão e qualidade de vida. Dessa forma, cada vez mais as empresas estão preocupadas com os seus valores para manter o foco na identidade da organização, bem como reter e atrair talentos. Uma das principais questões que os profissionais perguntam ao entrar em uma organização hoje é quais são os valores daquela empresa. Em vez de mudar seus valores, uma grande empresa mudará seu mercado, em busca de novos clientes, para que seus valores continuem sendo verdadeiros.
RH - O fato dos profissionais estarem ligados no "piloto automático" devido à exigência do completo engajamento leva os valores pessoais e corporativos a serem atropelados?
Paulo Alvarenga - Muitos profissionais estão no "piloto automático" não apenas devido à exigência do completo engajamento, mas também pela sua própria exigência em gerar resultados e seguem, muitas vezes, o caminho de maior desgaste de energia negligenciando alguns valores. Eu vejo isso na minha experiência como coach, quando um profissional me apresenta os seus valores mais importantes e analisamos juntos os seus comportamentos. A grande maioria percebe que não está priorizando os seus valores e isso gera uma reflexão profunda para a mudança de vida.
RH - Honrar os valores pessoais e das organizações está mais difícil?
Paulo Alvarenga - Está difícil justamente pelos modelos mentais existentes em vários profissionais, pois os mesmos são gerados pelo ambiente ou pelas experiências anteriores e a busca pela cultura de alta performance pode ser confundida pelo resultado a qualquer custo.
RH - Quais os reflexos que essa dificuldade de honrar os valores gera às pessoas e, consequentemente, às empresas?
Paulo Alvarenga - Podemos destacar justamente a geração de uma insatisfação profunda e questionamentos sobre a carreira, família e qualidade de vida. Isso, por sua vez, leva à desmotivação e, consequentemente, à baixa performance. Coisas simples como focar no autodesenvolvimento, atenção para a família, estar presente no aqui e agora são deixadas de lado.
RH - Apesar desse cenário, existe algum ponto de esperança para a sobrevivência dos valores tanto corporativos quanto pessoais?
Paulo Alvarenga - É claro que existe. Os profissionais estão buscando mais esse "equilíbrio". É um desafio constante, mas é possível. Existem muitas formas de alcançar resultados extraordinários sem desequilibrar as outras áreas da vida. Existe um conceito que se chama "The Power of Full Engagement", criado por Tony Schwartz, que é o envolvimento total com você mesmo, como os outros e em tudo que você faz, conhecemos também como Atleta Corporativo que se torna fisicamente energizado, mentalmente focado, emocionalmente conectado e espiritualmente alinhado.
RH - Qual passo inicial que uma empresa pode dar, para resgatar seus valores e fortalecê-los junto aos seus profissionais?
Paulo Alvarenga - A empresa deve tomar todas as decisões sempre com base nos valores, cada feedback dado pelos líderes da organização deve ser coerente com os valores, méritos e as promoções devem ocorrer além das competências desenvolvidas e resultados alcançados, mas também pela vivência dos valores.
RH - O investimento nas competências comportamentais é um caminho para o resgate de valores no meio organizacional?
Paulo Alvarenga - Com certeza, pois o comportamento é reflexo do valor que cada indivíduo tem. Podemos conhecer muito bem uma pessoa nas seguintes situações: sobre pressão, lúdico, com poder, entre outros momentos vivenciados. Nessas situações as pessoas revelam-se e têm comportamentos com base em seus valores. Para mudar um comportamento, devemos trabalhar em níveis acima do comportamento, trabalhar com o que gera o comportamento, nesse caso, os modelos mentais.
RH - A atuação direta da área de Recursos Humanos auxilia fortalecer os valores corporativos?
Paulo Alvarenga - O profissional de Recursos Humanos com certeza auxilia, mas deve ser o apoio, pois a grande armadilha é terceirizar tudo na área de RH, terceirizar a divulgação dos valores, terceirizar o desenvolvimento dos profissionais. A área de RH é estratégica e também de apoio, a preocupação com valores é uma questão organizacional e também é de responsabilidade de cada líder divulgá-los e vivenciá-los.
RH - De forma prática, como o profissional de RH pode fortalecer os valores organizacionais no dia a dia?
Paulo Alvarenga - O profissional de RH pode fortalecer os valores corporativos. Um exemplo prático ocorre quando é realizada a contratação de colaboradores levando-se em consideração seus valores, indicando profissionais para promoção sempre avaliando os valores das pessoas. Cada ação feita, praticada pelo profissional de Recursos Humanos seja em treinamento ou qualquer outra iniciativa, sempre deve considerar os valores. Para qualquer ação do RH, os valores sempre devem estar presentes.
RH - Que conselhos o senhor deixaria para uma empresa que se preocupa com o resgate e o fortalecimento dos seus valores?
Paulo Alvarenga - Expressar claramente que a empresa vive intensamente os valores e que acredita neles. É aconselhável deixar os valores impressos em todo o material da empresa. Em todas as reuniões sempre comentar os valores com as pessoas e a cada feedback dado, nunca deixar de utilizar esses valores. É como meu pai dizia: "A palavra move e o exemplo arrasta".
Publicado em 11/10/2010 no www.RH.com.br.
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